quarta-feira, 14 de maio de 2008

Essência

Sou feito de barro.
Argila e terra, água e fogo
Tão frágil e tão grosso
Tosco em minhas delicadezas.
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Sou feito de barro
De uma fornada de pretos e putas
Pobres e viciados, amantes descamisados
Que um dia sonharam ser louça.
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Da terra vermelha extraí minha fertilidade
Da argila branca e úmida, minha imperfeição moral
Sou feito de barro, pisado e rejeitado
Insólito pedaço, de nada e de vento.
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Fosse cerâmica, brilharia
Aceitaria minha megalomania
Espelharia riquezas de um meio social urbano
Que foge os olhos às misérias humanas.
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Sou feito de barro, não mais que barro.
Escarro, suor, molejo e escárnio
Que unidos na marra pelas chamas
Geraram disforme objeto sem função.
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Fosse de ouro ou prata, envergonharia, talvez
Viveria, talvez. Sorriria, talvez.
Sou feito de barro e aguardo o retorno
Aos grãos que deram forma a histórias tão estranhas.

3 comentários:

Anna Paula disse...

Juninho,
Adorei os textos!!! Vc tem muito talento, escreve bem!!!
Parabéns!!!! Estarei sempre passando por aqui para acompanhar as novidades.
Bjos e boa sorte!!!

Anônimo disse...

Uau! Muito bem esse poema (profundo)! Vai juntando que c vai escrever um livro um dia, parabéns! Ah, e obrigada pela visita, volte sempre pra um chazinho!
Raquel

Anônimo disse...

Uau! Muito bem esse poema (profundo)! Vai juntando que c vai escrever um livro um dia, parabéns! Ah, e obrigada pela visita, volte sempre pra um chazinho!
Raquel