terça-feira, 14 de julho de 2009

Convalescendo

E de repente o forte se fez fraco
E a fragilidade acalma a rebeldia
Arrefecendo o peito e os batimentos,
Lençóis claros azuis na cama fria.

À prole os heredos são passados,
Em roda a ciranda da família.
Humilde e sensível, sem pecados,
Temente em não ver a luz do dia.

E o sopro do destino encontra a face
Alimentando a chama esmorecida
Um parto novo, a mesma velha vida.

Aos poucos a vaidade se levanta
E ergue corpo e alma sem medida
Qual fênix renascendo adormecida.

GRITO

Sou uma poesia incompleta. Um rosto sem traços. Bandeira sem mastro. Vassoura sem palhas. Meu próprio abismo sou eu.

Sou revolta, sou medo, angústia e desprezo, sou pudor, covardia, posso ser todavia o contrário do bom senso, lamento, invento, sustento, que tempo frio...

Onde estou, quem sou, o que faço, passo, rebato, farrapo, opaco e sem cor.

E a pureza, beleza, certeza, encanto, maestria, alegria, soam distante como uma subtônica miudinha.

E então que se exploda o mundo, peguem fogo as realezas, a pureza se dane, que pane, vexame, assim seja.

E depois que acorde em soluços acuado e com remorso, aliviado da dor.

Consuma-me

Qual forja: fogo, ferro e fole, consuma-me.
Finos laços alourados, pêlos e flores do mato, abraça-me.
Armada consistente, teus dentes ao peito
Desejo de luz e dia, rompimento, consuma-me.

Lasciva, esguia, sexualmente infantil;
Fugaz, voraz, imagino, desatino, me oprimo.
Dai força, dai medo, da vida vivida
De sorte que um dia perpetue-se a marca.

E o ontem, o hoje, o de repente
Se ausente e não seja mais que um poente
Da força volátil das atrações.

Por nossas energias, eu fantasia, você ilusão
No véu da inconsistência, pujança fria leva à escuridão
Se for pra ser de fato, do certo ao errado, respondamos então.

SM

Pesquei cardumes de desejos, beijos e saudades
No jequi do peito, meio sem jeito, guardei isca viva
Não pesco com artificial, meu mal, não minto
Sinto, fisgada forte, do norte, vestida de algodão branco

Serra da Mesa, pescada boa, gente a toa, haja calor
Escorre e sua, escorre e geme, e fere gente com estupor
Se esportiva que valha a fisga e a corrida que se travou
Se for pra cria, levo água fria, gelo e encho meu isopor

Serra da Mesa com voadora passa de pressa bem ligeirão
E deixa junto com esses dias histórias novas pro embornal
Como se antes da pescaria nenhum passado fizesse mal.

Serra da Mesa ai que beleza seus dias quentes, um carnaval
Na quarta feira deixa saudade assumo a farda sem matagal
E de gravata lembro bravatas de uma pescada tão genial.

Resgata-me

Com o fogo da vida quero cauterizar minhas feridas,
Reescrever essa história, incompleta, sentida...
Tomar frente e rédeas, esquecer o passado
Do remorso e da culpa extrair aprendizado.

Se no fundo do poço vi o pior inimigo,
Conhecido se fez o maior dos meus medos
E se lá Sua luz inda pôde tocar-me
É por misericórdia e não merecimento.

Não Lhe peço nada além de confiança,
E pedras capazes de me enrijecer
Permita-me ser andarilho incessante,

Porém, nunca mais, um perdido errante
Um conquistador, em Seu Nome o levante,
Seu filho Lhe roga Faz-me renascer.

Pedaços

Pedaços de você em todo o canto
E canto uma cantiga de saudade
A dor é uma certeza lancinante
Uma ferida aberta, eis a verdade.

Sonhos esfacelados, rotos
Sem pernas, braços ou cabeça
Cabeça que não pára de rever
Os risos e sorrisos do passado.

Fostes a melhor parte de mim
O que me resta agora é piedade
Daqueles que um dia me amavam,

Amavam quando em mim viam você
E hoje só enxergam desespero
Pois há pedaços meus por toda parte.