quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sem Sentido (Ressentido)

Como um grande pote vazio me sinto
De qualquer sabedoria desprovido
Que à noite ao decepar sua gravata
Depara-se com um insignificante eu.

Tão pobre e inquieto ser pungente
Careço da piedade das pessoas
Aflito me recolho ao sono eterno
Refúgio dos insanos sofredores.

Desta vida solitária e depressiva
Que se alegra à pena alheia dispensada
Ruem risos e sorrisos disfarçantes.

Na berlinda, da loucura à ebriedade,
Dum cotidiano flórido imposto
‘Me demovo’ dessa glória concedida.

........................................2000.

Quadro Paredes

Nas teias de seus braços,
Emaranhados de beijos,
Abraços e pernas trocados
Num canto meio sem jeito.

Vivenciar a loucura
Do gosto de sua presença,
Vestida de deusa nua
Matando minha inocência.

E com olhar fustigante
Me afogando em seus seios
Doar-me a seus devaneios.

Perdido em meio a trejeitos
Num conto apaixonante,
História de dois amantes.

.........................................2001.

Ansiolítica

Anseio a ansiedade
Da ânsia que me amedronta,
A espera da novidade
O amor de quem se ama.

Aguardar ansiosamente
A descoberta do novo,
Sacia a chama ardente
Daquele que esconde o fogo.

O medo da derrota,
Do vexame que envergonha
Torna a vida sem graça, enfadonha.

O risco que alimenta, assanha
Apraz a serventia mundana
E dá tesão à vida, humana.

..................................2001

Soneto do Ciúme Doentio

O porquê de o ciúme ter
Cega a fala, muda o ver
Enlouquece do tolo o âmago
Esmorece o corpo, o estômago.

Xinga, mata, se arrepende
Chora, sofre, se defende
Escorraça a parte amada
Se afoga na cachaça.

Pelo medo da desgraça.
Enxovalha o amor de graça,
Abandona o par perfeito.

Falso moralista nato,
Desde cedo homem macho,
Solitário a vida passa...

......................................1999.
A verdadeira vida é o sonho
O verdadeiro sonho é a vida
Como posso viver sem sonhar?
Como posso sonhar sem viver?
As lágrimas do meu sonho
São a felicidade de minha vida.
Triste é quem não pode viver nem sonhar,
Triste é que não pode viver nem sonhar como nós vivemos e sonhamos.

..........................................1992 – 13 anos.
Um dia sonhei com teu corpo
Sonhei com teu corpo ao meu lado
E tudo expressava carinho
Num sonho que tive acordado.

Sonhando viramos um só
Alma pura e sem pecado
Sonho que tive contigo
Sonho que sonhei ao teu lado.

Na veia de minha vida
Esse sonho ficou marcado
Com o fogo do teu amor
Amor que me foi revelado.

E tenho escrito em minha veia
Por um fogo que ainda incendeia,
O amor que sonhei acordado.

..............................1994 – 15 anos.
O Amor é um não sei o quê,
Quer arde docemente e
Fere tão contente, que nem
Os mais cegos podem ver.

O Amor é o frio da fogueira,
Numa manhã estrelada
Igual aos contos de fada
Que a geleira incendeia.

É a esperança de um desiludido
O sorriso aberto de um pierrô,
Que na madrugada vive a rotina
E na rotina do dia vive o que sobrou.

....................................................1999.
As palavras são tão belas
Que nunca se acabarão.
E as palavras mais bonitas
São as que vêm do coração.

.....................1986 – 07 anos.

Parto Ausente

Cai a noite, crepúsculo tardio
E a aurora que custa se levanta
Na madrugada, furor, melancolia,
Nasce dia o dia, que a todos nos espanta.

Cresce o fruto que incha o puro ventre
É semente rompendo a terra boa
Barco raso afunda na enchente
Frágeis laços que a brisa rompe à toa.

Sobram cinzas, sequer brasas se vislumbram
Consumindo o papel ao fogo ardente
Das efêmeras fogueiras que iludem.

Faltam braços e abraços protetores
Resta o ser exposto a risos e amargura
Busca eterna ao seguro ancoradouro.

...........................................................2000
O coração de quem ama é todo feito de carne,
Arde em fogo e clama o corpo que lhe completa,
Qualquer sibilar ao ouvido o ventre em gelo arte,
Perdido de amor em chamas no seio que se revela.

Os lábios tocam o pescoço, sussurram sinceras mentiras,
As mãos se tornam libertas, travando um corpo a corpo,
A boca cala e suga os peitos o ventre e as pernas,
Os dedos já não se aquietam bulindo o corpo d’outro.

........................................................................2001.

Dialogando

Quão grande um sopro pode ser?
Mudar o mundo, emudecer. Matar...
Morrer, calar, tornar um cego a ver,
Fazer um homem feito de jeito chorar.

Pequenos atos, descompassados,
A ira que brota à boca fazem germinar,
De um grito mudo, estrondoso,
Angústia rompante a nós vem flertar.

E perco a fome, acabo o jantar
E vejo choro, começo a falar,
Certo ou errado, me arrepender.

E a deixo em casa, magoada,
E sinto-me tolo de o simples não ver.
“Pare o mundo que quero descer”.

...........................................05/11/2001.

Despedida

Um pedaço de mim fica.
Outro parte.
E essa arte denominada vida pulsa.
E invariavelmente nos conduz à morte.
Pois tudo aquilo que respira sofre.
.........................................Adeus São Paulo.
.................................................21-03-2008