quinta-feira, 3 de março de 2011

Paulista

Bêbados. Bêbados! Miseráveis bêbados.
Pobres bêbados miseráveis.
Miseráveis bêbados pobres.
Pobres. Miseráveis. Bêbados.

Sob marquises fétidas fedem
Escórias da história, escondem-se
Passado silente, ausente
Arrastadas culpas, correntes.

Bêbados, invejo-os com desprezo,
Alienam-se em imensa coragem
Na covardia dos medos.

Bêbado. Eternamente bêbado.
Tão ternas (cruas) verdades nos regem,
Bêbados! Tão livres, tão presos.

Nonsense

Sua casa distava da minha um cigarro,
Um cigarro de distância nos separava.
Ainda que regados, morreram seus girassóis.
Restaram minhas arrudas, inquebrantáveis.

M'a dit une lesbienne:
Tu baises comme une femme
Me disse uma prostituta chorando:
- Você não poderia ter sido tão canalha assim.

Cantarolava na noite fria ao cheiro de jasmim.
Cantarolava loucamente e via,
Torrentes dementes fluir.

Não mais o mesmo de antes,
As fotos do pedalinho
Jamais andar de bicicleta
Que morram as suas bonecas
Se percam em botequins.

Sua casa seja um guarda-chuva
De uva ou carmesim
Não quero manchar seu vestido
Meu ego seja um bote
E a morte nosso jardim.

Branca

Branca flor, vestida de bordado e rendas
Despida de medos, segura. Segure minha mão.
Branca flor, saudade não se compara não
Cheiro não se apaga, olhar e gosto, oferendas.

Colo de flor, aconchega meus medos
Pranto aplacado em silêncio, relva de amor.
Colo de flor, conhece minhas fraquezas
Arranca do peito espinho, soluço escondido e dor.

Mãos em pétalas, tocaram meu corpo e mente
Mãos prolíficas, plantaram em mim sementes
Mãos de seiva, teu suco e sangue quentes.

Branca flor, florido esteve este jardim e altar
E jaz dormente, anseia o seu brotar,
Ou dele esquece para não mais lembrar.