quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Aquela presente

Confusa, trazia o passado atado a si.
Vestida de azul. Azul ilusão.
Simplesmente presente, prudente,
Cautela de quem não quer se ferir.

Azul arrastão, azul fantasia, se ria
Daquele que nada lhe parecia ser,
Presa-Liberta, paradoxal chega
De mansinho, sem nem perceber.

E as mãos se entrelaçam novamente
E há risos e dores, torrentes
E histórias de pratos saborosos.

E o sono invade lentamente,
São filmes deixados de lado,
Fragmentos diários, repentes.

Zurzindo crença II

Todo dia minto. Para sobreviver, minto.

Minto a continuidade da existência sem seus cabelos molhados, escuros e encaracolados.
Minto a razão das coisas sem sua camiseta velha da Minnie em par com minhas golas canoas feitas à tesoura de casa.

Anos se passaram, finjo ver seu sorriso infantil. Adorável:

– Paaaaara!!!
– De que?
– De ficar me olhando assim.
– Assim como?
– Assim desse jeito, com essa cara de bobo, fixamente.
– Não consigo.

Simplesmente não consigo ainda. Até hoje.

Quantas vezes, daquele seu sonzinho prata (que você comprou com seu primeiro salário), Beatles, Maria Bethânia, Nana Caymmi e outros testemunharam nosso cortejo? Dançávamos e ríamos na minúscula sala, fria, de paredes descascadas e móveis baratos, alguns doados, que ornavam nosso salão festivo na ilusão do momento, nossa dança de amor.

Quanto chamei por você, quanto medo tive?
Quantas chamei de você?

Quanto orei, cantei, supliquei por você?

Colecionando juras, sigo. Jurando em vão.

Tudo em vão.
Pecador contumaz não tem perdão.