terça-feira, 14 de maio de 2013

Bigode

Carrego seu nome comigo,
Meu velho, meu pai, meu amigo.

Reflito seu olhar no espelho
E as falhas de uma calvície.
Encolho meus pés
Para que pareçam os seus.

Imito seu sorriso fácil, franco
E o seu olhar austero.
Pinto lentamente
Meus cabelos de branco.

Prevejo breves janeiros
O tempo inteiro.
Me agarro nesse seu abraço,
Em mente.

Contemplo nossos jantares
Silenciosamente.
Me faço de ausente,
Presente.

Minha cama ainda está feita
Em sua casa.
Há chinelos meus,
Ainda que ande distante.

- Não carregue isso,
Deixe que eu levo.
Tomou seus remédios?
Foi ao médico?

Enxergo um menino
Tão bonito.
E a sombra de uma montanha
Tão alta.

Como somos chatos,
Às vezes.
Aceito,
Sou mais ranzinza.

Mentimos mal,
Verdade.
Mas somos marotos,
No bom sentido, lascivos.

Sou seu menino.
É o meu menino.
Sou seu protegido.
Não mexam contigo.

Somos
Dois em um.
Somos
Um em dois.

Somos,
Só somos.
Um terno eterno
Nós.

Carrego seu sangue comigo,
Meu velho, meu pai, meu amigo.

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